Piercing bucal - um modismo perigoso

 

Praticado há milênios por povos tribais em todos continentes, o “body piercing” ressurgiu, a partir de 1970, como um adereço de tribos urbanas em Londres e, nos anos noventa, transformou-se em verdadeira moda entre jovens de todo o mundo. A expressão “body piercing” literalmente significa perfuração do corpo e dá nome ao artefato assim colocado, atualmente mais conhecido por “piercing”, a forma reduzida da expressão.

Nos últimos cinco anos, no Brasil, observou-se um crescente aumento do piercing fixado nos lábios ou na língua, sobretudo entre jovens. Esse fato é preocupante, pois esse modismo pode resultar em sérios prejuízos para a saúde, podendo causar até o risco de morte.

O piercing de língua, por exemplo, tem uma haste longa, sendo que numa extremidade há uma esfera fixa, soldada, e na outra, uma esfera que é parafusada. O “piercer”, como é chamada a pessoa que trabalha com a colocação do piercing, perfura a língua do usuário para transfixar a haste - o que é evidentemente um ato cirúrgico. Essa prática é perigosa, pois a maioria dos “piercers” não está preparada para o tipo de procedimento. Nem os locais são apropriados para essas verdadeiras intervenções cirúrgicas, não têm sequer as condições mínimas de biossegurança para prevenir infecções e a transmissão de doenças como AIDS, hepatite, herpes, cândida ou viroses.

Infecção, dor e edema (inchaço) após a perfuração são alguns dos riscos do uso de piercing na boca, mas existem vários outros. O piercing altera a fala. A fonação fica prejudicada. O potencial mastigatório e a eficiência da trituração dos alimentos e da deglutição também diminuem. Durante as refeições podem ocorrer trincas, fraturas dentárias ou fraturas de raiz, com a probabilidade de comprometer a integridade ou até mesmo levar à perda de um ou mais dentes.

Processo alérgico devido a hipersensibilidade a metais, formação de tecido cicatrizado (quelóide), oxidação do piercing e corrosão de restaurações metálicas são efeitos adversos bastante comuns. Restos alimentares e corpos estranhos caídos dentro do local perfurado provocam mau hálito. O piercing dificulta o diagnóstico radiográfico. O artefato provoca uma distorção do metal na imagem, o que pode impedir uma avaliação precisa da parte maxilar, mandibular e dos dentes nas radiografias.

Poderia continuar citando inúmeros malefícios a que se expõe o usuário do piercing de língua, mas para concluir vou alertar para uma grave condição. A esfera parafusável pode se soltar. Se isso acontecer, o usuário ficará com um artefato grande (a haste é longa) solto na boca. Imagine que isso ocorra com o paciente dormindo. Ele poderá aspirar o piercing, sem os reflexos normais do estado de consciência, e imediatamente ficará com as vias aéreas superiores obstruídas, podendo causar morte por asfixia. Se a haste do piercing  soltar durante a prática de esportes também pode ser perigoso.

Atitude é saber dizer NÃO! Admiro quem tem personalidade e não vive seguindo modismos, tendências. Esses, sim, fazem a diferença e chamam a atenção por não se comportarem como robôs e marionetes. A pessoa autêntica de verdade cria seu estilo próprio. Tem amor ao seu corpo. Preserva a sua saúde. E valoriza a sua vida! Pense nisso!

(Artigo publicado no Jornal de Guidoval - Ano 4 - Nº 19 - 30/07/2006)